O governo de Nicolás Maduro está sendo acusado por ativistas de direitos humanos de utilizar um aplicativo de celular como ferramenta de repressão. Segundo a Anistia Internacional, o presidente da Venezuela estaria incentivando os cidadãos a denunciar, por meio do aplicativo VenApp, qualquer manifestante que questionasse sua reeleição. A entidade destacou que, desde então, milhares de pessoas foram detidas e mais de uma dúzia morta em uma repressão intensificada contra a oposição. Investigações preliminares da ONU apontam que, desde a eleição em 28 de julho, mais de 2.000 pessoas foram presas.

São Paulo, 20 de agosto de 2024.

Lançado em 2022, o VenApp inicialmente foi apresentado como uma plataforma para a população relatar problemas, como falta de energia e emergências médicas. No entanto, após a reeleição de Maduro, o aplicativo ganhou novas funcionalidades, permitindo denúncias contra manifestantes e opositores, sem a necessidade de provas.

Entre os serviços do aplicativo, existe a opção de denúncia de "Guarimba fascista", além de outras subcategorias que incluem saques, danos ao patrimônio público, perturbação da ordem, entre outros. Maduro assegurou que as denúncias teriam confidencialidade e que ações imediatas seriam tomadas.

A Anistia Internacional vê o VenApp como uma ferramenta adaptada para reprimir a oposição e alertou para a cumplicidade das empresas de tecnologia envolvidas no desenvolvimento e distribuição do aplicativo. Matt Mahmoudi, da Iniciativa do Vale do Silício da Anistia, questionou se essas empresas estão cumprindo suas responsabilidades de direitos humanos, considerando o histórico de repressão do governo venezuelano.

Mais de 100 organizações da sociedade civil e ativistas, incluindo entidades como Conexión Segura y Libre e Robert F. Kennedy Human Rights, emitiram uma carta denunciando o uso da tecnologia para vigilância e repressão política na Venezuela. O documento destaca que, desde 2016, a Venezuela tem recebido tecnologia de vigilância de empresas como a chinesa ZTE, e que Maduro admitiu, em 2021, utilizar tecnologia israelense para interceptação telefônica.

A carta denuncia a expansão contínua do aparato de vigilância do governo, que tem sido usado para suprimir protestos e silenciar vozes de oposição.